21 de nov. de 2010

Sr. Pipoqueiro



Que nostalgia que sinto, do alto de meus 19 anos, ao ouvir o barulho de seu sino. Que sabor vem a minha memória, doce cheiro que sinto. Lembro como era bom ouvir este sino e saber que meu doce lanche estava a caminho. Mas você, Sr. Pipoqueiro tinha esse seu ar tão triste, tão liso e tão pálido. Uma maneira que não casava com a alegria que seu lanche me trazia. Seu rosto á noite era iluminado apenas pela luz de sua lamparina. E eu podia ver por detrás de seus bigodes um murmúrio de "obrigado" recheado de satisfação quando feliz eu voltava, com pacote na mão, para o conforto de minha casa.
Era quase um ritual. Enquanto você, Sr. Pipoqueiro enfeitava meu lanche com confeitos coloridos, meu pai assitia de janela todos os meus passos e acompanhava meu sorriso. E foi assim, começou comigo, mas aos poucos quase todas as noites outras crianças da rua passaram a me acompanhar e voltavam felizes como eu para a doçura de seu lar.
Mas Sr. Pipoqueiro eu cresci. E além de gostar de outros doces lanches, passei a estourar meus próprios grãos ora que seriam acompanhados por um filme, ora apenas por vontade de comê-los. E Sr. Pipoqueiro, também passei a perceber que seu sino tocava cada vez menos frequentemente à noite. Até que lembro de me perguntar onde você estaria. Por muito tempo essa pergunta ecoou sem reposta. Será que o Sr. Pipoqueiro (que realmente já era um senhor) foi vender pipocas do outro lado (da vida e não do bairro)?
E quando eu estava no retorno do exercício de minha cidadania em pleno segundo turno de eleições presidenciais, te encontrei de novo Sr. Pipoqueiro. E para minha surpresa você me reconheceu e acenou com um sorriso. Quanto a mim, não te reconhecer seria impossível com aqueles mesmos bigodes e a mesma cara triste e lânguida iluminada pela lamparina. Não parei, apesar da vontade de fazê-lo. Apenas acenei de volta e retribuí o sorriso.
E ontem Sr. pipoqueiro, em pleno sábado à noite, ouço de novo um som familiar. Era seu sino tocando e o cheiro doce invadindo meu quarto. Apareci na janela e acenei. Não, dessa vez não era um aceno para que parasse. Era apenas para que você soubesse que ainda lembro do som de seu sino e que sinto falta desse tempo despreocupado em que minha ocupação nas noites era debruçar-me na janela e garantir alguns trocados de meu lanche.
Obrigada por me fazer relembrar o quão doce era aquele tempo.

Boa noite Sr. Pipoqueiro.

3 comentários:

disse...

Lindo lindo lindo! Amei, mesmo. Tão doce e nostálgico... Beijo.

Natália das Luzes disse...

que lindo! *-*
eu amo pipoca também!!


te convido pra participar de um amigo secreto entre blogueiros:
http://blogueirosecreto.blogspot.com/


beijos!

Mel disse...

Fofo! Nossas memórias ficam bem guardadinhas em nossos corações, ainda bem!!!!
beijos