Sou metamorfa. Aos vinte sou o que nunca pensei ser. Sou água do mar. Agitada e revolta, moldável e forte. Também não sei o que serei daqui para frente. Meus pensamentos são outros, são tantos e não definíveis. Sou terra e fogo. Aos vinte sei o que nunca pensei que saberia e amo de um jeito que também jamais imaginei. Aos vinte enxergo mais.
Aos vinte ainda sou filha e estudante e namorada. Daqui para a frente ser humano em crescimento não-obrigatoriamente biológico. Sou ser simplesmente.
Sou moldura clara e simples. E falante querendo ser mais ouvinte. E curiosa querendo aprender tudo e abraçar o mundo. E dedicada quase até a exaustão. E delicada quase até a ser chata. Mais do que fui antes. E também gosto de educação e polidez. Comigo e por isso mesmo pratico-a metodicamente com os outros.
E também gosto de tantas coisas mais. Tantas músicas que pensei que não gostaria. Tantos gostos, fotos, formas, sombras, lugares, cheiros e cantos que nunca havia imaginado.
Aos vinte começo a aprender e entender que o mundo é vasto. Que o mundo é possibilidade. Que a vida é livre e feita de escolhas a cada momento. Aos vinte sinto saudade de quem está longe vivendo uma outra vida e também de quem partiu para nunca mais voltar. Aos vinte também tenho minhas faltas e sei que estas crescerão.
Percebo que os caminhos são escolhas. Uma roupa, um sapato, uma chave, uma esquina, um carro, táxi, ônibus, bonde, ladeira,portas, amores que te levam para um lugar só seu. Não porque este é secreto, mas sim porque só você sabe como chegou lá. São seus passos, suas histórias e suas escolhas a olhos vistos mas a verdades veladas.
Aos vinte também sou errante. Aos vinte ainda sonho e acordo assustada. E cada vez menos me sinto culpada por ainda não saber bem o que querer da vida. Tirei esse peso das minhas costas quando percebi que o mundo está girando muito depressa e quando decidi que eu mesma ditaria o ritmo da minha vida.
Aos vinte certamente tenho muitas responsabilidades. Reais e impostas. Imaginárias ou não. Mas sim, responsabilidades. Comigo (principalmente) e com os outros. Muito em parte porque cobro bastante de mim mesma e isso muito, muito antes dos vinte.
Aos vinte me sinto completamente lapidável. Me sinto vazia e pronta e disposta para aprender.
Sou outra e assim quero continuar sendo.